Fim das Publicações

Ensinamentos do tempo
Coração palpitando, frio na barriga, mãos suadas, ansiedade a mil e cabeça nas nuvens… A cada “nova” paixão e encantamento, novos projetos e sonhos para o futuro a dois. A cada rompimento, solidão, carência, quebra de expectativas e tristeza. Somos feitos de dúvidas, acertos e erros… Aprendi com o tempo, que a graça da vida é nós que damos, e que a apenas nós cabe nossa felicidade. Aprendi a não levar a vida tão a sério, pegar mais leve, e na relação, não culpar o outro por decepcionar as minhas expectativas… Já perdi alguns amores, e ao perdê-los, me deparei com outras perdas da minha vida. Uma dor, nunca é uma dor sozinha. Uma lembrança se liga à mil histórias. Já acreditei no “felizes para sempre”, e já me devotei à algumas paixões as quais acreditei serem únicas… mas o tempo me mostrou o contrário. Prefiro continuar acreditando e apostando no amor, do que desacreditar nele. Quantos homens da minha vida eu ainda terei, só o tempo poderá dizer, mas continuarei acreditando que o atual será o último, porque a final de contas, qual a graça e razão disso tudo? Aprendi que o “felizes para sempre” não existe, que uma relação é feita de conflitos e divergências, mas que o sentimento que une o casal, deve prevalecer, caso contrário, melhor seguir a diante. Existem casais que dizem estar juntos, mas mais parecem seres solitários no mesmo ambiente. O estar junto, não é dado apenas pela presença… O que será que os mantêm juntos ou porque eles investem em relações já desinvestidas? Só eles mesmos sabem, ou nem eles… Acredito que é melhor estar sozinha, do que estar em uma solidão à dois… Hoje olho para o passado com ternura, para os homens da minha vida que já se passaram. Hoje agradeço por tudo que vivemos, e não porque um dia foi lindo, mas sim porque hoje olho para trás e me parece linda a nossa história. Não que não tivemos brigas e discussões, mas o tempo amenizou as dores, e deixou as marcas doces e aprendizados… o tempo passa e com ele sobram as boas lembranças. Dizem que quando se olha um antigo amor sem dor, é sinal que se está pronta para o próximo… Que tal embarcar nesse “loop” e se arriscar em algo mais profundo?

Entra, mas não bagunça
Vai ficar por quanto tempo? Te preparo um café, ou preparo a minha vida? Pensando na dinâmica dos relacionamentos modernos, a atração física e o desejo se sobressaem Se existe o desejo, parece que entra na ordem do permitido… “eu quero, eu posso, e quero agora”. As mudanças culturais resultaram em uma maior liberdade sexual e poder de experimentação, e isso tem repercutido em mudanças na forma de se relacionar. Os padrões normativos antes estabelecidos “caíram por terra”, mas mesmo assim, ainda é necessário que exista combinações e concordância entre as partes envolvidas. Parece que cada vez mais se ignora o outro, ou o percebemos, como um objeto de satisfação de nossos desejos, e era isso… Essa lógica distorcida de se relacionar e de se posicionar frente as novas relações, juntamente com o imediatismo e a praticidade dos tempos atuais, pode gerar danos e traumas. Se quiser entrar na minha vida, a porta está aberta. Mas você está a passeio ou veio para ficar? Não adianta entrar, me apresentar para a família, bagunçar tudo e depois sumir, como se nada houvesse… houve, e talvez os significados para ambos tenham sido diferentes. Está tudo tão efêmero, e meio vazio… A entrada foi permitida, mas os objetivos eram diferentes, e nada foi dito. Essas experiências vão tornando homens e mulheres mais fechados, desconfiados e com dificuldades em se relacionar. A vida é totalmente feita de escolhas, e o poder de decisão é seu, desde que não afete o outro, não o machuque. As relações têm começado e terminado de maneiras tão estranhas… simplesmente existe um afastamento de uma das partes, e a outra fica sem entender direito o que aconteceu. Daí abre-se espaço para as fantasias… “Será que foi o que eu disse? Ou fiz algo errado? Ou ele(a) tem receio de se envolver?” Ao mesmo tempo que cada vez menos sabemos lidar com o diferente, cada vez mais a diferença se impõe. Entra, mas não bagunça nada, se pretende sair tão depressa. Não costumo abrir a minha vida a qualquer estranho, se abri é porque acreditei que seria diferente…

Medo de ser dependente?
As pessoas no geral tem muito medo de se tornarem dependentes, seja de drogas, de outras pessoas ou de medicamentos… Por mais que estejam sofrendo ou tendo dificuldade, evitam ao máximo buscar ajuda. Parece que para ter valor e ser bom, é necessário ser autosuficiente. Mas será que alguém consegue essa façanha? Frente a essa lógica distorcida, só tem valor quem consegue resolver seus problemas sozinho e de uma forma brilhante, caso contrário é um “fracassado”. As pessoas geralmente tem essa visão, e veem a terapia com sendo algo para problemáticos e loucos. A busca por ajuda espontânea, demonstra na verdade, uma boa noção do sujeito de suas capacidades e limitações. Essa ajuda pode ser pontual ou pode ser mais prolongada, depende de cada pessoa e de necessidades e características individuais. A terapia além de auxiliar nas questões ligadas ao sofrimento, as dificuldades relacionais (com pais, namorados, filhos, esposa) e os sintomas emocionais (desânimo, nervosismo, dificuldade de concentração), ela oportuniza uma maior noção e percepção do sujeito sobre si, equilíbrio emocional, além de abrir um mundo de novas possibilidades e olhares frente a situações antes cotidianas e inquestionáveis. A ideia é sair da zona de conforto e se permitir pensar, mas agora não mais sozinho. Acredito que talvez a grande resistência das pessoas em buscar ajuda, esteja no medo de gostar e de se tornar “dependente”. No entanto isso é uma fantasia, desde que o psicólogo seja bom, pois a ideia da terapia é exatamente o contrário, é fortalecer o paciente para que ele sozinho consiga tomar as rédeas de sua vida, mas dessa vez, de uma maneira mais clara, coerente, equilibrada, independente e confiante. Frente as dores, as dificuldades e os problemas diários, muitas pessoas recorrem à soluções rápidas (remédios), já outras temem a dependência química, e evitam ao máximo as pílulas. Mas será que é possível mudar comportamentos e pensamentos apenas com pílulas? Muitos casos podem ser solucionados apenas com a psicoterapia, mas em outros a medicação é também parte importante do processo de melhora. O tratamento combinado, se refere ao tratamento psicológico, juntamente com o auxílio medicamentoso, algo bastante indicado, quando há necessidade. Mas importante lembrar, quem deve avaliar os riscos, os benefícios e indicar o tratamento é um profissional de saúde mental. O que te incomoda em sua vida? Que características você gostaria de desenvolver? Que relacionamentos gostaria de melhorar? Que tal pensar a sua vida de uma nova perspectiva? Saia dos pré-conceitos, permita-se pensar e ser mais feliz.

Desencontros amorosos
Escuto muitas mulheres dizendo por aí que ninguém quer nada com nada, que os homens não querem envolvimento e que é muito difícil achar alguém legal, mas também escuto o mesmo discurso do outro lado. Acho que as pessoas estão muito exigentes em relação ao amor. Mas espera um pouco, do que exatamente estamos falando? De pessoas reais ou de projeções que tendem a resultar em frustrações? A indústria de animação Walt Disney e Hollywood talvez tenham grande influência nesses desencontros amorosos. Hoje em dia qualquer passo em falso pode acabar com uma possível relação. Porque será que as relações estão frágeis e instáveis? Qual o valor que os sentimentos e os relacionamentos têm nos dias de hoje? Zygmunt Bauman, é um grande sociólogo que trabalha com os temas da modernidade líquida, amores solúveis e fragilidade dos laços afetivos. Nos faz pensar que vivemos em uma era, onde a tecnologia domina as novas formas de relação, e a instabilidade, a intolerância, o imediatismo e insegurança são resultados desta dominação. Porque se dedicar a uma única relação, se o whatsapp oferece a possibilidade de conexão com vários(as) em segundos? A tecnologia foi criada para encurtar caminhos, e não para nos distanciarmos ainda mais emocionalmente. A fila anda , é uma frase bastante batida, mas acho que ultimamente, a fila já não anda, ela voa. Não aceitamos erros alheios e não aceitamos nenhuma espécie de defeito. Se tiver um dedo torto, se usar aparelho, se caminhar de uma maneira estranha e se tiver uma pinta, pronto, já são razões suficientes para se afastar. Será que são esses detalhes que impedem a relação ou é você que não se permite envolver profundamente com um outro? Queremos que todos correspondam as nossas expectativas, que por sinal, estão cada dia mais altas. O que nos é possível, não nos interessa. Almejamos o perfeito, o irreal, a fantasia. Estamos na era da velocidade e da superficialidade, onde tudo que demanda esforço e dedicação é evitado. Mas importante lembrar que pessoas e sentimentos não são descartáveis. E no meio de tudo isso, esquecemos o essencial: para se relacionar, é preciso tempo e tolerância. Mas apesar de todo esse blá, blá, blá… Acredito que as pessoas não sabem exatamente o que querem e o que estão procurando. Você sabe? Se as coisas não estão dando certo, talvez você tenha grande responsabilidade sobre isso. E se o padrão que você busca é sempre o mesmo, e isso não te faz bem, é bom parar um pouco, rever seus conceitos, se pensar, e talvez buscar ajuda. Tem muita gente bacana por aí, talvez querendo exatamente o mesmo que você. Então antes de colocar a culpa de sua vida amorosa no outro e na sociedade, pense no que você está realmente fazendo por você. Se permita, se experimente. Esquece tudo aquilo que aprendeu nos filmes sobre príncipe e princesa, cavalo branco e felizes para sempre. De valor aos detalhes, aproveite o momento e as companhias. Larga o celular, e vai se conectar com a pessoa que esta aí do teu lado. Talvez assim seja possível conhecer uma pessoa especial e viver uma história real.

Psiquê Humana: Amo by Jout Jout
A youtuber Jout Jout faz terapia e fala neste vídeo de uma maneira despojada e bem humorada sobre sua experiência, sobre preconceitos e sobre a importância do autoconhecimento. Vale muito a pena assistir! 🙂

Olhando para trás
É curioso, por vezes triste, na maior parte das vezes estranho olhar para trás, reler uma carta, ver uma foto, e ver que a pessoa pela qual você jurou amor um dia, hoje não faz mais parte da sua vida. Muitas vezes é difícil até de acreditar que aquela pessoa um dia dividiu a vida com você, que fizeram planos juntos… porque hoje ele(a) se tornou um completo estranho(a). Parece um filme que você assiste, mas que não se reconhece no papel de protagonista. Lembra cenas, lembra falas… mas definitivamente, não era você. Estranhezas e mudanças da vida… A relação terminou e vocês seguiram em frente, foi necessário romper vínculos, reavaliar decisões, refazer planos, mudar, voltar a trás, se reinventar… Frente a dor da perda o luto é natural. Não me refiro apenas as perdas concretas, falo também de perdas ocasionadas pelo movimento natural, por decisões e pelo crescimento… Vocês passaram por todas as etapas do fim de um relacionamento. Sofreram independente da razão do término, porque as vezes terminar sem razão específica é ainda mais dolorido, mas passou, e esse ciclo se fechou. Com o tempo, muita coisa mudou… você, ele, os objetivos de vida, os gostos. Os amores e escolhas estão ligadas a momentos de vida… No momento em que viviam juntos, não enxergavam outras possibilidades, não passava pela cabeça estar com outro(a)… Mas depois que passa, parece que tudo faz sentido, e o olhar para traz parece estranho. A marca existe internamente, o carinho e afeto, muitas vezes também, mas com o tempo esquecemos a intensidade daquela relação… e até desconfiamos de sua veracidade. Sabemos que existiu, foi forte, temos provas concretas: cartas, presentes… mas já não se lembra da intimidade, das confidências. Parece que foi um sonho bom, mas que depois você acordou. Toda história tem um fim, mas na vida sempre existem novos recomeços…

O jogo das diferenças
Muitas pessoas cruzam nossas vidas diariamente, seja no shopping, no balcão de uma confeitaria, no centro da cidade… e cada uma delas carrega consigo uma história. São milhares de histórias que se cruzam a todo o instante, mas parece que cada vez menos buscamos olhar para o lado, e saber sobre este outro, que está aí bem pertinho… De uma maneira moderna e defensiva, pegamos nossos celulares, fones de ouvidos, e adentramos ainda mais para nossos mundos internos, para evitar o contato visual e o estranhamento de um possível contato físico. Mas porque será que o diferente é tão ameaçador? Talvez porque não o entendemos, ou porque em essência, nos vemos iguais? Nossos grupos de amigos geralmente são formados por pares que pensam, se vestem e se comportam de forma parecida, assim mantemos grupos de iguais e fingimos que a diferença nem existe. Assim controlamos as reações, as relações, e não temos que lidar com as diferenças e tolerá-las. A diversidade, não tem que ser vista como adversidade. Porque tendemos a julgar o diferente, a fazer bullying e excluí-lo, sem nem saber a sua história, suas dores, e sem nem ao menos darmos a oportunidade de ele se apresentar? Ao não entender, apenas negligenciamos. Sentimos e somos afetados cada vez menos. Criamos muralhas de proteção, e assim perdemos nossa naturalidade… Tudo tem que estar no “script”, na zona conhecida, se não, nos sentimos perdidos e desconfortáveis. Qual o receio do contato? Que tantos pudores nos colocaram e continuamos nos colocando? O desafio de lidar com as diferenças é um exercício diário, e exige uma desconstrução de padrões enraizados, além de uma dose extra de paciência, respeito, flexibilidade e empatia. Vai lá, tente… Olhe para o lado e permita-se entrar em contato.

Você sofre abuso psicológico no relacionamento? Fique atento a 4 sinais
Todos os relacionamentos mudam com o passar do tempo, mas o que acontece quando muda para pior? “No início tudo era um mar de rosas, até que com o passar do tempo me vi em um relacionamento opressor.” Esta é uma fala bastante comum de pessoas que viveram um relacionamento abusivo. O abuso pode ser físico, emocional, financeiro e sexual. O termo relacionamento abusivo se refere a relação onde predomina o excesso de poder sobre o outro, existe um “desejo” de controlar o parceiro. Geralmente começa com ciúmes “bobos” e comentários sutis, até ir tomando proporções maiores, podendo ocorrer chantagem emocional, depreciação do parceiro, traições, humilhações até agressões verbais e/ou violência física. São relações onde os sentimentos de amor, ódio, medo e conforto coexistem. Na maioria dos casos ocorre uma dominação e persuasão do homem sobre a mulher, mas há em menor ocorrência a dominação inversa. Por isso é fundamental estar atenta a alguns sinais: Ciúme e possessividade exagerados: Ciúmes constante e sem razão. Muitas ligações ao dia, o parceiro pega o seu celular para checar as mensagens e realiza visitas inesperadas ao seu trabalho, ou onde você estiver. Tais comportamentos tendem a gerar longas brigas. Geralmente há tentativas de isolar a parceira até mesmo do convívio com amigos e familiares; Em muitos casos, há rígidos papéis de gênero no relacionamento. Controle sob decisões e ações: Geralmente não há liberdade e privacidade entre o casal e pode haver um controle financeiro excessivo. Interrogatórios diários sobre com quem você falou e onde você estava; verificação da quilometragem do carro; o parceiro mantém todo o dinheiro ou pede recibos de seus gastos; insiste para você pedir permissão para ir a qualquer lugar, são alguns exemplos. Manipulação: Geralmente são parceiros que entram rapidamente e intensamente na relação. Tendem a pressionar e exigir exclusividade imediatamente. Com falas fortes do tipo: “Eu nunca me senti amado assim antes por ninguém”, “você é tudo que eu quero e preciso”. Normalmente esse início vem acompanhado com expectativas muito irrealistas. Além disso, esses parceiros tóxicos apresentam excelente capacidade de persuasão, utilizam-se de jogos psicológicos, fazendo muitas vezes você literalmente se sentir a louca da história. Com medo do que os outros vão pensar e falar, a tendência de quem sofre, mas também ama, é se calar e aguentar sozinho. Oscilações de comportamento: O parceiro durante as brigas, na maioria das vezes sem motivo, parece se transformar em outra pessoa. Seu humor muda em questão de minutos, podendo ser violento verbalmente e/ou fisicamente. Muitas vezes fala coisas, faz ameaças e depois desmente o que disse. Utiliza-se de histórias passadas e/ou atuais contra a parceira. Pode fazer críticas excessivas. Tende a culpabilizar o outro por seus atos, e a “inverter” sempre a história. É fundamental lembrar que atos de violência nunca podem ser vistos como atos de amor. E que o abuso não necessariamente envolva agressão física, mas que são relacionamentos tóxicos e violentos da mesma maneira. O primeiro passo para uma vida mais feliz, segura e saudável, depende de um pouco de autoconhecimento. Se seu companheiro tem alguns destes comportamentos, é possível que você esteja em um relacionamento abusivo. Leia mais a respeito e busque ajuda de amigos, familiares e profissionais especializados. Existe algumas comunidades no facebook que servem de canal de interação e troca, para quem passa por essas situações. Entre eles estão: “Relações Tóxicas”, “Moça seu relacionamento é abusivo”, e “Relacionamento abusivo – Grupo de apoio”, além disso há vídeos no Youtube, que esclarecem mais sobre o tema.

Como o seu dia a dia Influencia nos seus sintomas?
A cultural influência a vida das pessoas em diversos aspectos: suas crenças, comportamentos, percepções, emoções, linguagem, religião, estrutura familiar, dieta, modo de vestir, imagem corporal, atitudes frente à doença, o significado de doença e os tipos de tratamento. A cultura faz a mediação entre o social (o grupo) e o individual (você), logo ela é de extrema importância na constituição do sujeito. As definições de saúde e doença podem assumir diferentes significados dependendo de cada grupo/cultura. O sujeito e a cultura vão se influenciando mutuamente em encontros e desencontros fundamentais ao processo de construção dos diversos modos de interação e de adoecimento humano. Assim pode-se pensar que o sofrimento psicológico, deve ser compreendido dentro de uma sociedade, de uma determinada cultura e em um contexto histórico definido. As doenças e sintomas diferem dependendo da região onde o sujeito está inserido, como por exemplo, nos grandes centros urbanos, onde as manifestações das doenças são em um nível mais emocional e intelectual, já nas sociedades mais rurais e menos desenvolvidas, os sintomas são de natureza mais somática (no corpo) e comportamental. Isso está relacionado ao fato que nos grandes centros urbanos adota-se um estilo de vida marcado pela competição, pela busca de sucesso e pela posse de bens materiais. Já nas cidades rurais há um forte poder das tradições e da religião, as famílias são mais extensas e a escolaridade normalmente é mais baixa. Cada vez mais nas grandes cidades as pessoas têm adoecido e sofrido perturbações de ordem psicológica, e comportamental devido a correria do dia a dia, ao excesso de estimulação, as hiperexigências sociais e à solidão urbana. O estilo de vida complexo e agitado das sociedades desafia a estabilidade mental que é condição indispensável de saúde. Você tem algum sintoma? Anda cansado, deprimido ou com alguma dor no corpo? Já pensou que isso pode ser um sinal de que algo não vai bem, e que é necessário parar um pouco para pensar na sua qualidade de vida e saúde? Talvez seja melhor parar de enquadrar os outros nas tais “caixinhas”, e gastar mais tempo olhando para você e para os sinais que o teu corpo aponta.

“Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, um destacado dissecador da sociedade do hiperconsumismo, fala sobre suas críticas ao “inferno do igual”. As Torres Gêmeas, edifícios idênticos que se refletem mutuamente, um sistema fechado em si mesmo, impondo o igual e excluindo o diferente e que foram alvo de um ataque que abriu um buraco no sistema global do igual. Ou as pessoas praticando binge watching (maratonas de séries), visualizando continuamente só aquilo de que gostam: mais uma vez, multiplicando o igual, nunca o diferente ou o outro… São duas das poderosas imagens utilizadas pelo filósofo sul coreano Byung-Chul Han (Seul, 1959), um dos mais reconhecidos dissecadores dos males que acometem a sociedade hiperconsumista e neoliberal depois da queda do Muro de Berlim. Livros como A Sociedade do Cansaço, Psicopolítica e A Expulsão do Diferente reúnem seu denso discurso intelectual, que ele desenvolve sempre em rede: conecta tudo, como faz com suas mãos muito abertas, de dedos longos que se juntam enquanto ajeita um curto rabo de cavalo. “No 1984 orwelliano a sociedade era consciente de que estava sendo dominada; hoje não temos nem essa consciência de dominação”, alertou em sua palestra no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB), na Espanha, onde o professor formado e radicado na Alemanha falou sobre a expulsão da diferença. E expôs sua particular visão de mundo, construída a partir da tese de que os indivíduos hoje se autoexploram e têm pavor do outro, do diferente. Vivendo, assim, “no deserto, ou no inferno, do igual”. Autenticidade. Para Han, as pessoas se vendem como autênticas porque “todos querem ser diferentes uns dos outros”, o que força a “produzir a si mesmo”. E é impossível ser verdadeiramente diferente hoje porque “nessa vontade de ser diferente prossegue o igual”. Resultado: o sistema só permite que existam “diferenças comercializáveis”. Autoexploração. Na opinião do filósofo, passou-se do “dever fazer” para o “poder fazer”. “Vive-se com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito”, e se você não é um vencedor, a culpa é sua. “Hoje a pessoa explora a si mesma achando que está se realizando; é a lógica traiçoeira do neoliberalismo que culmina na síndrome de burnout”. E a consequência: “Não há mais contra quem direcionar a revolução, a repressão não vem mais dos outros”. É “a alienação de si mesmo”, que no físico se traduz em anorexias ou em compulsão alimentar ou no consumo exagerado de produtos ou entretenimento. ‘Big data’.”Os macrodados tornam supérfluo o pensamento porque se tudo é quantificável, tudo é igual… Estamos em pleno dataísmo: o homem não é mais soberano de si mesmo, mas resultado de uma operação algorítmica que o domina sem que ele perceba; vemos isso na China com a concessão de vistos segundo os dados geridos pelo Estado ou na técnica do reconhecimento facial”. A revolta implicaria em deixar de compartilhar dados ou sair das redes sociais? “Não podemos nos recusar a fornecê-los: uma serra também pode cortar cabeças… É preciso ajustar o sistema: o ebook foi feito para que eu o leia, não para que eu seja lido através de algoritmos… Ou será que o algoritmo agora fará o homem? Nos Estados Unidos vimos a influência do Facebook nas eleições… Precisamos de uma carta digital que recupere a dignidade humana e pensar em uma renda básica para as profissões que serão devoradas pelas novas tecnologias”. Comunicação. “Sem a presença do outro, a comunicação degenera em um intercâmbio de informação: as relações são substituídas pelas conexões, e assim só se conecta com o igual; a comunicação digital é somente visual, perdemos todos os sentidos; vivemos uma fase em que a comunicação está debilitada como nunca: a comunicação global e dos likes só tolera os mais iguais; o igual não dói!”. Jardim. “Eu sou diferente; estou cercado de aparelhos analógicos: tive dois pianos de 400 quilos e por três anos cultivei um jardim secreto que me deu contato com a realidade: cores, aromas, sensações… Permitiu-me perceber a alteridade da terra: a terra tinha peso, fazia tudo com as mãos; o digital não pesa, não tem cheiro, não opõe resistência, você passa um dedo e pronto… É a abolição da realidade; meu próximo livro será esse: Elogio da Terra. O Jardim Secreto. A terra é mais do que dígitos e números. Narcisismo. Han afirma que “ser observado hoje é um aspecto central do ser no mundo”. O problema reside no fato de que “o narcisista é cego na hora de ver o outro” e, sem esse outro, “não se pode produzir o sentimento de autoestima”. O narcisismo teria chegado também àquela que deveria ser uma panaceia, a arte: “Degenerou em narcisismo, está ao serviço do consumo, pagam-se quantias injustificadas por ela, já é vítima do sistema; se fosse alheia ao sistema, seria uma narrativa nova, mas não é”. Os outros. Esta é a chave para suas reflexões mais recentes. “Quanto mais iguais são as pessoas, mais aumenta a produção; essa é a lógica atual; o capital precisa que todos sejamos iguais, até mesmo os turistas; o neoliberalismo não funcionaria se as pessoas fossem diferentes”. Por isso propõe “retornar ao animal original, que não consome nem se comunica de forma desenfreada; não tenho soluções concretas, mas talvez o sistema acabe desmoronando por si mesmo… Em todo caso, vivemos uma época de conformismo radical: a universidade tem clientes e só cria trabalhadores, não forma espiritualmente; o mundo está no limite de sua capacidade; talvez assim chegue a um curto-circuito e recuperemos aquele animal original”. Refugiados. Han é muito claro: com o atual sistema neoliberal “não se sente preocupação, medo ou aversão pelos refugiados, na verdade são vistos como um peso, com ressentimento ou inveja”; a prova é que logo o mundo ocidental vai veranear em seus países. É preciso revolucionar o uso do tempo, afirma o filósofo, professor em Berlim. “A aceleração atual diminui a capacidade de permanecer: precisamos de um tempo próprio que o sistema produtivo não nos deixa ter; necessitamos de um tempo livre, que significa ficar parado, sem