Entra, mas não bagunça

Vai ficar por quanto tempo? Te preparo um café, ou preparo a minha vida? Pensando na dinâmica dos relacionamentos modernos, a atração física e o desejo se sobressaem Se existe o desejo, parece que entra na ordem do permitido… “eu quero, eu posso, e quero agora”. As mudanças culturais resultaram em uma maior liberdade sexual e poder de experimentação, e isso tem repercutido em mudanças na forma de se relacionar. Os padrões normativos antes estabelecidos “caíram por terra”, mas mesmo assim, ainda é necessário que exista combinações e concordância entre as partes envolvidas. Parece que cada vez mais se ignora o outro, ou o percebemos, como um objeto de satisfação de nossos desejos, e era isso… Essa lógica distorcida de se relacionar e de se posicionar frente as novas relações, juntamente com o imediatismo e a praticidade dos tempos atuais, pode gerar danos e traumas.

Se quiser entrar na minha vida, a porta está aberta. Mas você está a passeio ou veio para ficar? Não adianta entrar, me apresentar para a família, bagunçar tudo e depois sumir, como se nada houvesse… houve, e talvez os significados para ambos tenham sido diferentes. Está tudo tão efêmero, e meio vazio… A entrada foi permitida, mas os objetivos eram diferentes, e nada foi dito. Essas experiências vão tornando homens e mulheres mais fechados, desconfiados e com dificuldades em se relacionar. A vida é totalmente feita de escolhas, e o poder de decisão é seu, desde que não afete o outro, não o machuque. As relações têm começado e terminado de maneiras tão estranhas… simplesmente existe um afastamento de uma das partes, e a outra fica sem entender direito o que aconteceu. Daí abre-se espaço para as fantasias… “Será que foi o que eu disse? Ou fiz algo errado? Ou ele(a) tem receio de se envolver?” Ao mesmo tempo que cada vez menos sabemos lidar com o diferente, cada vez mais a diferença se impõe. Entra, mas não bagunça nada, se pretende sair tão depressa. Não costumo abrir a minha vida a qualquer estranho, se abri é porque acreditei que seria diferente…
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